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  • Cefas Alves Meira

Morre José Maria Rabelo, fundador do “Binômio”


O jornalista tinha 93 anos e foi um dos perseguidos pela ditadura

Vítima de falência múltipla dos órgãos, morreu hoje, aos 93 anos, o jornalista e escritor José Maria Rabelo. O corpo do fundador do semanário Binômio, um dos pioneiros da imprensa alternativa brasileira, foi velado na Casa do Jornalista, em Belo Horizonte, das 14 às 20 horas desta quarta-feira. José Maria Rabelo, natural de Campos Gerais, Sul de Minas, era viúvo e deixa seis filhos.


A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alessandra Mello, destacou pelas redes sociais a consternação da categoria pela morte do ilustre associado: “Vá em paz, Zé Maria. Obrigada por toda coragem, lucidez, esperança e amor ao jornalismo. Um abraço especial dos jornalistas de Minas nos familiares e amigos. Força. Zé Maria Rabelo, presente!”.


Empastelamento

Binômio foi fundado em 1952 por José Maria e pelo também jornalista Euro Arantes, circulando até 1964, quando ocorreu o golpe militar que instaurou a ditadura no país. De viés esquerdista, o semanário primava pela ironia e sarcasmo no trato das notícias ligadas à política, sendo uma das primeiras vítimas do governo militar.


Mas não foi a ditadura que levou José Maria a fugir de Belo Horizonte, vestido de padre, indo para Poços de Caldas e, posteriormente, para São Paulo. Isso foi alguns anos antes, 1961. Binômio havia denunciado irregularidades e feito críticas ao general João Punaro Blay, então comandante da ID4, unidade do Exército sediada em BH. Já com fama de truculento, o militar foi à redação do Binômio levando nas mãos um exemplar do jornal com a matéria; a intenção, segundo disse o próprio José Maria, era fazê-lo engolir a publicação, como já tinha feito no Espírito Santo com representantes da imprensa local.


Rabelo, nas diversas entrevistas que deu sobre o fato, revela que ao começar a ser agredido pelo general, reagiu. Praticante de judô, conseguiu desvencilhar-se, entrando em luta corporal com Blay. O militar, com as vestes rasgadas, saiu junto com os colegas de farda, prometendo retornar e quitar a “dívida”. Voltou daí a alguns dias, mas José Maria Rabelo, avisado pela portaria do prédio, não pagou para ver. Saiu pelos fundos do jornal. Punaro Blay, ainda mais irritado, “empastelou” o Binômio - fez, com seus comandados, uma quebradeira geral na redação e gráfica do semanário.


O jornalista saiu então de imediato da capital mineira, temendo represálias ainda mais violentas, indo para poços de Caldas e depois para São Paulo. Com a posse de João Goulart em setembro de 1961, alguns meses após o episódio, Rabelo voltou a BH, retomando suas funções no jornal.


Mas em 1964, com o golpe militar, ele foi obrigado, juntamente com outros perseguidos pela ditadura, a sair do país, refugiando-se no Chile. Voltou em 1979, com a anistia promovida pelo general Ernesto Geisel, filiando-se ao PDT fundado por Leonel Brizola; presidiu o partido em Minas por duas gestões.


Excelente redator, José Maria Rabelo registrou em alguns livros passagens de sua vida na política, dissertando ainda sobre outros temas menos ideológicos. São de sua autoria: "Binômio – O Jornal Que Virou Minas de Cabeça Para Baixo", "Diáspora – Os Longos Caminhos do Exílio", "Residência Provisória.(poemas)", "Belo Horizonte – Do Arraial à Metrópole – 300 anos de história" e "Cores e Luzes de Belo Horizonte".


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