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Foto do escritorCefas Alves Meira

ARTIGO - Uma canetada matou a TV Itacolomi

Hamilton Gangana (*)

Quem viveu por estas bandas, entre 1955 e 1980, pode bater no peito e afirmar, em alto e bom som, que foi telespectador da TV Itacolomi, a nossa emissora pioneira, muito querida, por sua interação com os mineiros, uma identificação tão forte que mereceria um estudo de especialistas.


Há tantos anos fora do ar, a gente ainda sente saudades daquela vinheta na tela e a musiquinha de fundo, nas passagens dos programas:“TV Itacolomi/Sempre na liderança/Canal 4/ Belo Horizonte/Minas Gerais”. Com sotaque, jeito e forma de fazer tudo com muito cuidado e respeito às tradições da gente das montanhas, a Itacolomi acertou em tudo o que fez e mostrou ao Brasil como foi capaz de dar ótimos exemplos de talento, criatividade e competência. As novelas, programas de entretenimento, as transmissões esportivas e, também, os bate-papos e discussões da galera; os programas educativos, infantis, religiosos, os musicais e humorísticos de alto nível; os debates políticos, transmissões externas e um trabalho jornalístico exemplar, com as edições durante o dia e a noturna, nobre e confiável, na faixa das 20 horas, com notícias, interpretação e análise dos fatos.


Durante algum tempo, a Itacolomi reinou sozinha, era a única emissora televisiva, até chegar uma concorrente forte, que levou muito tempo para se firmar, por causa da absoluta fidelidade dos telespectadores com a Itacolomi, que apresentava completa e qualificada programação. Quem não se lembra do Grande Teatro Lourdes, Garrafa do Diabo, O Céu é o Limite, Agarre O Que Puder, Boliche Ingleza Levy, Caleidoscópio, Programa da Mulher, Cidade contra Cidade, Brasa Quatro, Variedades Guanabara, Jornal Banco Minas, Bola na Área, Show Ingleza Levy, Papo de Bola, Repórter Esso.


E mais. Universidade Popular da Manhã, Dirceu Pereira Show, Itacolomi é das Crianças; Esta Noite Se Improvisa, Programa Sérgio Bittencourt, Quem Tem Medo da Verdade, Chute em Gol Bemoreira, Cada Um Com Seu Estilo, Bola na Cesta/Floriano Nogueira da Gama, Carrossel, Roda Gigante, Vigilante Rodoviário, e outras coisas de agrado do público, como o personagem humorístico sacado pelo ator mineiro, natural de Sete Lagoas, Mauro Gonçalves (Zacarias), na década de 60, o bordão “Fala Caticó!”; as Gincanas, os Campeonatos de Truco, as transmissões do carnaval e das festas juninas, coberturas da Semana Santa em cidades históricas, os desfiles de Sete de Setembro; as coberturas eleitorais, em todos os níveis, e as apurações, além de dezenas de eventos populares, típicos de cada região do interior do Estado.


Havia também conexão com a TV Tupi do Rio e de São Paulo, que forneciam atrações como Flávio Cavalcanti, J. Silvestre, Moacyr Franco, Hebe Camargo, Chacrinha, Lolita Rodrigues e o impagável humorista, ator e cineasta Amácio Mazzaropi; e os grandes Festivais de Música Popular Brasileira, que despertavam elevado interesse e arrebentavam em audiência.


Há de se louvar, igualmente, o papel importante que foi desenvolvido pela Itacolomi com a abertura de inúmeras fontes de trabalho artístico, bem como a formação de profissionais qualificados em artes, jornalismo, música, teatro, cenografia, produção artística, imagens, som, luz; e também de várias outras atividades ligadas ao meio, sempre em natural e constante evolução.


No dia 20 de julho de 1980, juntamente com a TV Tupi de SP, TV Tupi do RJ e a Rádio Clube de Pernambuco, veículos pertencentes ao grupo dos Diários Associados, criado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, a TV Itacolomi foi abruptamente retirada do ar pelo governo militar de 1964, sem maiores explicações. Foi um ato político, sem dúvida alguma, que prejudicou e entristeceu toda Minas Gerais.


Na época da cassação, a TV Itacolomi era dirigida por José de Oliveira Vaz, seu diretor-geral; Clóvis Prates, diretor-artístico; editor de jornalismo, Sérgio Prates; diretor-financeiro, Hélio Amoni; diretor comercial, Talardo José dos Santos; diretor-técnico, Adauto Machado, e gerente de programação,Wilson Carneiro.


O engenheiro Victor Purri Neto instalou a engrenagem importada pela Itacolomi, com equipamentos RCA, e o apoio da competente equipe formada inteiramente por gente da casa. Um fato curioso, que exigiu muita habilidade da direção da TV Itacolomi, entrou para o anedotário do futebol mineiro: a FMF proibiu a TV de transmitir os jogos de futebol, alegando que as transmissões prejudicavam a federação e os clubes, porque tiravam os torcedores dos campos, fazendo cair as arrecadações.


Diante da impossibilidade de entrar em campo com as câmaras e os profissionais, a Itacolomi transmitiu os jogos do estádio Independência, com os equipamentos e pessoal instalados em cima de lajes das casas, no entorno do estádio, conseguindo ótimos resultados.


Em uma única exibição noturna, o comercial da Cobertores Parahyba era aguardado por crianças, exatamente às 9h da noite, com cenas de vários carneirinhos dando pulinhos em direção ao descanso, enquanto uma voz suave de criança entoava a canção de ninar: “Tá na hora de dormir/Não espere mamãe mandar/Um bom sono pra você/E um alegre despertar…


Já os marmanjos, ouviam a voz grave do cantor Dorival Caymmi, no final das transmissões, por volta de meia noite e uma hora da madrugada: “Boi, boi, boi/Boi da cara preta/Pegue esse menino/Que tem medo de careta…Boi, boi, boi… E, na tela cheia, a logomarca e encerramento: BOA NOITE!


(Hamilton Gangana é publicitário e trabalhou em agências que anunciavam na emissora. Colaborou neste artigo Talardo José dos Santos, ex-diretor comercial da TV Itacolomi e da Globo)


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