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  • Cefas Alves Meira

“Hoje, este anúncio está fazendo 47 anos”


O redator publicitário mineiro João Bosco publicou ontem nas redes sociais um artigo discorrendo sobre um fato que marcou sua vida.


No ano da graça de 1976, em início de carreira na agência L&F, dirigida pelos sócios Simão Lacerda, Hélio Faria e Márcio Prado, o jovem redator foi surpreendido por uma fantástica e comovente homenagem prestada pelos seus amigos. Mas deixemos o próprio João Bosco contar a história.


“Eu tinha 23 anos na época, cursava 8º ciclo da Católica em Belo Horizonte – quer dizer, estava para me formar em Comunicação – e havia sido contratado há pouco tempo pela L&F – Lacerda e Faria Publicidade. A agência também era nova, apenas 4 aninhos, e era reconhecida pela criatividade e pelo acordo com a famosa agência paulista, como a DPZ de Minas Gerais. Seu slogan era L&F, 4 anos. A agência mineira mais premiada nos últimos 4 anos.


“Eu nem tinha cavanhaque, era um fiapo de magro e, como minha mãe dizia, ainda estava cheirando a cueiro quando a minha faculdade realizou um ciclo de palestras com profissionais do mercado de publicidade. Assisti a duas: uma do Mario Ribeiro, um redator brilhante que estava saindo da L&F para assumir a Diretoria de Comunicação e Marketing do BDMG, e outra do Simão Lacerda, de Planejamento e Atendimento, o “L” da agência”.


“Enchi o saco dos caras com perguntas e mais perguntas e devo ter causado uma boa impressão em ambos, pois quando o Mario saiu alguns dias depois da agência ele me indicou para falar com o Marcio Prado, que era redator da L&F, além de sócio também. Eu disse pro Mário que nunca havia trabalhado em agência de propaganda, nem feito estágio, mas tinha mania de recriar anúncios que eu gostava”.


“E contei também que havia passado pela CUCA (Criação da Universidade Católica) uma espécie de agência-laboratório dentro da Faculdade de Comunicação, onde criei um filme para a Arquidiocese de Belo Horizonte, à época comandada por Dom Serafim Fernandes de Araújo, que também era o reitor da Católica. O comercial era para incentivar a leitura da Bíblia. A ideia era muito simples: mão tirava um livro todo empoeirado da estante e ia passando o pano, removendo toda a poeira. No final, aparecia a capa onde se lia: Bíblia Sagrada. Não tinha locução, apenas trilha e no final entrava um lettering: Biblia: um livro sempre novo.


“O Mário me falou: ‘Leva o que você tem e conta o que você me contou pro Márcio’. Liguei para o Márcio e no dia marcado levei uma cópia em 16mm do filme e uma pastinha montada às pressas com os anúncios que eu gostava colados de um lado e, do outro, uma folha com o título e o texto recriados por mim, batidos numa Remington verde do meu irmão. Enquanto o Márcio lia o meu material, o Simão passou pela sala dele, me viu lá e brincou: ‘Olha aí o garoto perguntão da Católica’. Ao que o Márcio respondeu: ‘Simão, é o menino de quem o Mário falou’. Foi aí que eu me lembrei das palestras e como foi bom ter enchido o saco dos dois.”


“O Márcio me pediu para deixar o meu material lá para o Hélio Faria, artista plástico de renome e excelente diretor de arte – o “F” da agência - ver também. O pessoal deve ter gostado, pois no dia 9 de agosto de 1976 eu comecei a trabalhar na L&F, com um ótimo salário na carteira. Em pouco tempo, fiquei tão fascinado pela publicidade e por estar trabalhando em uma agência tão criativa e com pessoas tão diferentes e especiais, que escrevi uma carta dirigida aos três sócios da agência e entreguei.”


“No dia 28 de novembro daquele mesmo ano, apenas um pouco mais de três meses depois que fui contratado, abro o jornal Estado de Minas e quase caio para trás: no caderno de Economia vejo um anúncio grandão da agência, no formato rouba-página, com a minha foto tirada pelo Hamdan sem eu saber, e o título: Quer conhecer a L&F? Pergunte ao João. Embaixo a minha carta. Ao lado, Quer conhecer o trabalho da L&F? Pergunte a eles. Embaixo, uma relação de 40 clientes. Quando cheguei no trabalho, foi uma festa só desde a recepção até a criação, que ficava no fundo da agência.


“No final do ano eu me formaria mas não precisaria correr atrás de estágio em agência como meus colegas: eu já estava trabalhando como redator em uma grande agência, ganhava bem e tinha o que ninguém tinha: um anúncio com a minha cara que a minha família guardou como uma relíquia. Um anúncio que está fazendo hoje 47 anos. Quando me perguntam qual é o maior prêmio dos muitos que já ganhei na publicidade, eu respondo cheio de orgulho: esse. Obrigado, Mário Ribeiro, que já se foi. Obrigado, Márcio Prado e Hélio Faria, que também já se foram. Obrigado, Simão Lacerda. Obrigado,.a todos da L&F. Há 47 anos, vocês transformaram muito mais que uma carta em um anúncio, vocês transformaram um garoto cheio de sonhos em um profissional.

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