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Foto do escritorCefas Alves Meira

Dan Zecchinelli e a comunicação em Dubai 




Como é a atividade publicitária no Oriente Médio? Da publicidade e propaganda nos Estados Unidos, Europa e até mesmo a Ásia, sabe-se um pouco, principalmente pela participação de suas agências em Cannes. Mas como é o mercado de comunicação, sobretudo quanto a hábitos e costumes, dos Emirados Árabes?

 

O publicitário Dan Zecchinelli, capixaba de Vitória que depois de formado veio trabalhar em Minas, sendo redator e diretor de criação da RC e Filadélfia (para onde acaba de retornar), tem muitas histórias para contar sobre a publicidade oriental.

 

Depois de montar e lançar em BH a Maloca73, in-house da Localiza, Dan recebeu convite e foi trabalhar como Associate Creative Director na MullenLowe MENA em Dubai. um dos emirados que compõem o país chamado Emirados Árabes Unidos - destino turístico internacional reconhecido principalmente pelo luxo e modernidade.

 

Nesta entrevista ao Blog do Cefas, Dan conta como foi trabalhar no Oriente Médio e conviver com os players do mercado publicitário dos Emirados árabes.

 

- Por que você decidiu ir para Dubai?

- Desde antes da pandemia eu pensava em internacionalizar minha carreira. Comecei a procurar oportunidades na Europa, pois tenho passaporte europeu. Nessa busca, fiz alguns trabalhos como freelancer para agências de Londres e de Dubai com meus amigos Hauck Araujo e Marcos Hosken. Depois do último freela, recebi o convite para ir para a MullenLowe MENA.

 

- Diferenças entre a propaganda de Dubai e a do Brasil.

- A grande maioria das agências é ligada a grupos internacionais, como a própria MullenLowe, a McCann, Ogilvy, Publicis, Leo Burnett, BBDO, TBWA e outras. Então a visão é mais internacional e menos local. Dubai é um hub de negócios para toda a região MENA (Middle East and North Africa) e as vezes até do sudeste asiático. Trabalha-se em inglês com equipes internacionalmente diversas no dia a dia, e todas as agências possuem profissionais para “arabizar” as campanhas. Trabalhar em Dubai é viver em uma cidade com 3 milhões de habitantes, num país com menos de 10 milhões de pessoas, e atender não só para marcas locais, mas também globais. 85% da população de Dubai é estrangeira, então é um lugar multicultural. 

 

- Choque cultural, o que mais te marcou?

- A convivência entre culturas diametralmente opostas é muito interessante. Em meu primeiro fim de semana, fui à praia e vi uma mulher de burca ao lado de outra com biquíni pequenininho, na beira do mar. Árabes e indianos comem com as mãos na maioria das vezes. Indianos normalmente não respeitam fila – nem para entrar no elevador, nem no metrô, nem em nenhum lugar. Parece que o conceito inexiste por lá. O inglês de povos árabes não-nativos na língua, como libaneses, egípcios, jordanianos, e também o dos filipinos, é muito melhor do que o de nós brasileiros. Eles são realmente fluentes no idioma. Isso sem falar em indianos e paquistaneses, que são bilíngues nativos, pois foram colônias britânicas. Tive uma grata surpresa ao ver que os muçulmanos são tão variados quanto os cristãos: assim como existem católicos, evangélicos, neopentecostais, Testemunhas de Jeová no cristianismo, existem várias correntes no Islã. Trabalhei com muçulmanas que iam cobertas de véu e outras que iam de minissaia e barriga de fora, além de muçulmanos que usam a kandura (a veste branca) e outros com roupas ocidentais “normais” aos nossos olhos. 

 

- Empresas onde trabalhou, campanhas e clientes.

- Trabalhei na MullenLowe, agência do grupo Interpublic, que também é dono da McCann, MRM e outras. As empresas do grupo ficam todas no mesmo prédio em Dubai. Atendi clientes como Emirates Airlines, Mall of the Emirates (shopping) e Shamal Group (X-Dubai, Skydive Dubai e Dubai Harbour). As campanhas que mais gostei de fazer foram Fixing the bAIs, para Aurora50, que ganhou diversos prêmios internacionais, e o aniversário do Skydive Dubai.

 

- Há limitações, assuntos proibidos para os criativos?

- Depende muito dos clientes. Normalmente, as marcas ligadas ao governo não podem usar muita pele à mostra em fotos e videos, especialmente se forem mulheres. Mas ao mesmo tempo, você vê nas redes sociais de “beach clubs” várias fotos, videos e posts de mulheres de biquíni e homens de roupa de banho, sem problemas. Não é permitido anunciar bebidas alcoólicas, a não ser nos pontos de venda e na internet. Uma outra coisa curiosa é o Ramadan, o mês sagrado para os muçulmanos. Tive que criar peças para essa celebração, que equivale grosso modo ao nosso Natal, mas na verdade não tem nada a ver. É impossível para nós entendermos direito. Equivale a explicar o que é o nosso carnaval para eles.

 

- Você ficou lá quanto tempo?

- Fiquei um ano exato e fiz grandes amigos – brasileiros, indianos, russos, colombianos, paquistaneses, libaneses… Foi uma experiência incrível.

 

Capixaba mineiro

Dan Zecchinelli, atual VP de criação da Filadélfia, se sente um capixaba mineiro, ostentando um currículo rico e diversificado, com premiações regionais, nacionais e no exterior.

 

Bacharel em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Espírito Santo, Dan, após formar-se, veio para o mercado publicitário das Gerais, onde foi redator e diretor de criação da RC e Filadélfia (retornou à agência este ano). Zecchinelli atuou também em outras agências de porte como a Master Comunicação, JWT, DM9DDB e Artplan.

 

É vencedor de prêmios como Cannes Lions, The One Show, Clio, New York Festivals, Cresta Awards, Festival de Londres, El Ojo de Iberoamerica, Clube de Criação de São Paulo, Profissionais do Ano da Rede Globo e Prêmio Abril. Já foi profissional de criação nacional do ano no Prêmio Colunistas, e fez palestras em universidades como UFMG, UFES, UniBH, UNA, PUC-MG e CEUMA.

 

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