ARTIGO - Pilares não se constroem com likes
- Cefas Alves Meira
- 2 de jul.
- 2 min de leitura
(*) Erivelton Braz

A informação nunca foi tão abundante, mas também nunca foi tão questionável. O fenômeno dos influenciadores digitais, tornou-se uma potência na internet, reconfigurando não apenas o mercado publicitário, mas também o de notícias. No entanto, trouxe à tona os debates sobre credibilidade.
Com isso, o jornalismo profissional, sustentado por formação técnica, ética e compromisso com a verdade, vê-se desafiado por essa legião de vozes que, muitas vezes, priorizam engajamento sobre precisão e até lucros sobre responsabilidade.
O problema não reside no sucesso dos influenciadores, mas na confusão entre entretenimento, opinião e informação sem a devida apuração e checagem. Enquanto jornalistas e profissionais de comunicação passam anos estudando técnicas de checagem, entrevistas, redação, além de ética e filosofia, muitos influenciadores tratam notícias como produtos de consumo rápido. Alguns, até moldados por opiniões pessoais, vieses políticos ou interesses comerciais. Isso contribui para a proliferação de dados desconexos, onde fatos se misturam a “achismos” e publicidade disfarçada, diluindo a noção de verdade e da realidade dos fatos.
Historicamente, a imprensa sempre atuou como mediadora entre os fatos e o público. Jornalistas são treinados para separar o essencial do acessório, contextualizar eventos e ouvir múltiplas vozes. Inclusive, as que podem desagradar os poderes constituídos e até mesmo a audiência.
Já os influenciadores, em sua maioria, funcionam como espelhos: refletem e amplificam aquilo que seu público já acredita, pois seu modelo de negócios depende de likes, views, comentários e compartilhamentos. Quando as pessoas optam por acreditar em criadores digitais em vez de um veículo jornalístico, elas substituem métodos de apuração com ética e respeito, por um conteúdo que, muitas vezes, prioriza o sensacionalismo.Pesquisas recentes indicam que 75% dos estudantes brasileiros desejam ser influenciadores, e metade deles admite que abandonaria a escola por essa meta. Isso levanta uma questão urgente: que tipo de sociedade estamos formando, se a educação crítica é trocada pela busca por viralizações?
Os jornais têm um valor e uma missão. Se as redes sociais funcionam como um mercado de opiniões, os jornalistas profissionais devem checar, cada vez mais, os fatos, levando luz para que o leitor forme a sua opinião.
As notícias, antes de serem dadas rapidamente, precisam ser checadas, conferidas. Elas carecem de apuração, de ouvir quantos lados sejam necessários. Do contrário, não há jornalismo. Também é essencial que a imprensa combata sistematicamente a desinformação, boatos e meias verdades, para elevar o nível do debate público.
A democratização da comunicação é um avanço inegável. No entanto, confundir liberdade de expressão com autoridade para informar representa um risco.
Influenciadores têm seu papel no ecossistema midiático, é verdade. Mas não podem ser as únicas fontes de notícia, porque muitas vezes postam sem apurar, colocam pontos de vista, misturando opiniões com informação. Já o jornalismo tem compromisso ético e é uma atividade regulada, passível de sanções, o que as redes sociais e os influencers não são.
Em um cenário em que embaixadores digitais ganham força e empresas trocam campanhas publicitárias por posts patrocinados, cabe à imprensa lembrar que informação não é mercadoria: é pilar da democracia. E pilares não se constroem com likes.
(*) Erivelton Braz é escritor, jornalista, professor e editor do jornal A Notícia, de João Monlevade
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